Na próxima quarta-feira (30) o turismo de eventos estará em evidência no Rio Grande do Norte com a realização da 44ª edição do Motores do Desenvolvimento, promovido pelo Sistema Tribuna em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do RN (Fecomércio-RN), Natal Convention Bureau, Governo do Estado (via Emprotur) e Prefeitura do Natal (via Secretaria de Turismo). O encontro reunirá nomes locais e nacionais para debater as perspectivas e os potenciais do segmento. Um dos nomes com participação definida é o do diretor geral do Centro de Convenções (CentroSul) de Florianópolis (SC), Leonardo Vieira.
O convidado, que é ex-presidente e fundador da Câmara Brasileira de Centros de Convenções, Pavilhões e Locais de eventos da União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe), ressaltou a importância de conceder à iniciativa privada, por meio do modelo de parceria público-privada (PPP), esses espaços primordiais para alavancar o turismo de eventos. “É fundamental que esses equipamentos sejam concedidos para empresas com capacidade e conhecimento e que tenham vontade de fazer com que as cidades mudem”, assinala.
Além de Vieira, estão confirmados no Motores do Desenvovimento Rodrigo Cordeiro, CEO da Nesty Digital e curador da plataforma Eventos Associativos; Felipe Tavares, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio; e George Costa , coordenador da Câmara Empresarial do Turismo da Fecomércio-RN. Leonardo Vieira participará de uma mesa redonda.
“É fundamental tratar desse assunto [turismo de eventos]. Hoje, nós temos no Brasil mais de 178 espaços de eventos e contribuímos com mais de 3 mil eventos somente no segmento de medicina”, disse em entrevista à TRIBUNA DO NORTE. Confira:
Como você avalia a importância dos centros de convenções nesse aspecto do turismo de eventos?
Para exemplificar bem essa relevância, eu cito a cidade de Florianópolis. Hoje, nosso Centro de Convenções, o CentroSul, é responsável por mais de 62% da taxa de ocupação nos hotéis do centro da cidade entre março e dezembro, o que é muito significativo. Isso corresponde a 8,7 mil leitos. Mas o que eu quero evidenciar é que esse cenário só é possível por conta da parceria com a iniciativa privada. Existe uma diferença muito grande entre um município que tem um centro de convenções em plena atividade privada e aquele em que a atividade é pública. Isso acontece porque, para o setor privado, esse tipo de turismo é levado muito a sério.
Aqui no RN discute-se, já há algum tempo, a concessão do Centro de Convenções de Natal (CCN) para a iniciativa privada. Esse é o caminho para alavancar o destino como polo do turismo de eventos?
É fundamental que isso aconteça. O Centro de Convenções de Florianópolis foi a primeira PPP do Brasil, em 1998 e, como eu mencionei, a diferença para a cidade é significativa. Temos aqui no Norte da ilha [em Florianópolis] um centro gerido pela iniciativa pública. A título de comparação, no ano passado ele teve apenas oito eventos, enquanto o CentroSul contabilizou 146, reunindo mais de 730 mil congressistas. A diferença é que no CentroSul eu tenho um departamento comercial que faz a captação, além de funcionários em todas as áreas de atendimento que, se for preciso virar a noite, eles ficam. E isso não existe na atividade pública. Outro exemplo importante de avanços é Aracaju (SE), que nunca foi destaque no turismo de eventos. Após a PPP do Centro de Convenções [em 2021], tivemos a cidade disputando eventos significativos no Brasil. Em Olinda, no Grande Recife, houve o mesmo movimento [o Centro de Convenções virou PPP em 2022]. Por lá, no ano passado foram 28 eventos e, para 2025, já são cerca de 80. Então, eu acredito que é fundamental esse modelo em Natal, que é um destino muito forte no turismo de temporada, mas, apesar de ter um centro [de convenções] em um lugar espetacular, em uma área de vários hotéis, não é uma cidade com força no turismo de eventos. E o que ocorre hoje no CCN? Falta estrutura de administração e salas para que ele receba grandes congressos brasileiros. Apesar de ter uma boa estrutura no anexo, o equipamento precisa de uma remodelagem, com uma área de saguão e de entrada. São mudanças que despertam o interesse pela cidade. Uma vez feitos esses complementos, Natal se tornará um dos melhores destinos do Nordeste para eventos. E é importante que isso aconteça, porque o grande destaque da região hoje é Salvador (BA), mas outros locais começam a despontar, como Aracaju e Recife, já mencionados aqui. E João Pessoa (PB) também prepara um edital para PPP do Centro de Convenções.
Atualmente, quais são os destinos que são destaque no turismo de eventos e o que a concessão dos centros de convenções à iniciativa privada têm a ver com isso?
A concessão tem absolutamente tudo a ver. Aqui eu destaco Goiânia (GO) e Salvador, que estão em uma disputa fenomenal para a captação de eventos. Nesses estados, empresas já estruturadas e com conhecimento na área ganharam campo e estão “nadando” nesse segmento, com uma média de mais de 100 eventos por ano nos espaços de convenções. Aqui no CentroSul não há mais data disponível para este ano, com o último evento marcado para 22 de dezembro. Então, é fundamental que esses equipamentos sejam concedidos para empresas com capacidade e conhecimento e que tenham vontade de fazer com que as cidades mudem.
Que outras inciativas são fundamentais para alavancar o turismo de eventos em um destino?
Continuo destacando que a criação de uma PPP é um ponto de partida fora do normal, porque junto com ela vem o fomento de atividades por entidades como o Convention Bureau, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), que vão se fortalecer. Essas entidades vão junto no trabalho de captação de eventos, por meio de divulgações e promoções. E isso, obviamente, vai acontecer em Natal com a PPP do CCN. Haverá uma parceria muito grande, porque os hotéis se fortalecem. Além disso, tem o incremento de fornecedores – aqui no CentroSul temos mais de 160 fornecedores, desde a secretária, passando pelo pessoal da segurança, limpeza e mestre de cerimônia. Tudo agrega para a captação. Hoje, como está o Centro de Convenções de Natal, as entidades ficam sem ter muito o que fazer, porque tudo depende do governo.
O que o turismo de eventos representa para a economia de uma região?
Novamente vou citar o exemplo de Florianópolis para falar dessa questão. Calcula-se que nessa alta temporada a cidade recebeu 1,6 milhão de turistas. É preciso considerar que mais de 65% desse volume ficam em Airbnb, em albergue ou casa de aluguel, enquanto cerca de 35% ficam em hotel, que é quem gasta efetivamente. Enquanto o primeiro perfil evita gastos em restaurantes, na noite ou na praia, porque ele costuma levar a própria cerveja, por exemplo, o turista de eventos, que fica em hotéis, é o oposto. Somente no CentroSul tivemos, no último ano, mais de 700 mil congressistas. E é esse turista quem gasta com almoço, jantar, táxi ou transporte por aplicativo, shopping e vida noturna, deixando em média R$ 1,5 mil diários na cidade. Então, existe uma diferença gritante entre os dois perfis. Para se ter uma ideia, em Florianópolis somos o segundo maior arrecadador de impostos da cidade. Essa força também é vista em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde, segundo ouço, os eventos contribuem com algo entre 5% a 6% da arrecadação desses municípios. E, mais uma vez volto a falar sobre Natal, que terá um desenvolvimento excepcional nesse aspecto.
Qual a importância de se tratar sobre turismo de eventos no Motores do Desenvolvimento?
É fundamental tratar desse assunto. Hoje nós temos, no Brasil, mais de 178 espaços de eventos. Contribuímos com mais de 3 mil eventos somente no segmento de medicina junto à Associação Médica Brasileira – são mais de 300 congressos no Norte e no Nordeste e mais de 50 no Rio Grande do Norte. Imagine o quanto isso significa para a cadeia de empregos dessas regiões – como eu disse, de secretárias, a recepcionistas e seguranças. É uma cadeia com mais de 200 funções. A Ubrafe discute esses aspectos o tempo todo através da Câmara Brasileira [de Centro de Convenções], ciente de que somos hoje um dos grandes fomentadores no país do turismo e do desenvolvimento econômico.
QUEM
Leonardo Vieira é diretor geral do Centro de Convenções de Florianópolis (CentroSul e ex-presidente e fundador da Câmara Brasileira de Centro de Convenções, Pavilhões e Locais de Eventos da0 União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe). Vieira é jornalista, ex-secretário de Turismo de Balneário Camboriú (SC), com passagens pelos centros de convenções de Curitiba (PR), Santos (SP) e Brasília (DF). Além disso, Vieira tem vasta experiência em consultoria para centros de convenções de diversas outras cidades do país e resorts.
PROGRAMAÇÃO
Data: 30 de abril
8h: Café da Manhã de Boas-Vindas
8h30: Vídeo Institucional Motores
8h40: Início da Cerimônia
8h45: Vídeo Fecomércio
8h50: Fala de Fernando Fernandes
9h00: Fala de Marcelo Queiroz
9h10: Painel 1 – Turismo MICE como estratégia de aceleração da economia do destino” – Rodrigo Cordeiro – CEO da Nesty Digital e curador da plataforma Eventos Associativos
9h40: Painel 2 – Impactos do Turismo MICE do Brasil e RN – Felipe Tavares – Economista – Chefe da CNC
10h10: Mesa Redonda
– Leonardo Vieira – diretor-geral do Centro de Convenções de Florianópolis e ex-presidente e fundador da Câmara Brasileira de Centro de Convenções, Pavilhões e Locais de Eventos da Ubrafe
– George Costa – Coordenador da CET Fecomércio RN e ex-diretor-presidente executivo do NCVB
11h00: perguntas
11h30: encerramento
O projeto
O Projeto “Os Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte” foi criado pelo Sistema Tribuna de Comunicação para apresentar uma série especial de seminários e suplementos com o objetivo de liderar um processo de discussão sobre os eixos do desenvolvimento da economia do RN, levando à sociedade informação de qualidade sobre o presente e perspectivas para o futuro. O público é formado por empresários, lideranças políticas e pesquisadores. Em 2024, o Motores teve duas edições: PPPs e Concessões e Agronegócio.
Tribuna do Norte
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