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Bagada escrito em 25 de Maio de 2025

RN tem o 2º maior índice de adultos obesos no Brasil

O Rio Grande do Norte possui o segundo maior índice de adultos obesos dentre todos os estados do Brasil e o Distrito Federal, de acordo com dados disponíveis no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) do Ministério da Saúde até a sexta-feira (23). Os números apontam que 42,09% da população adulta do estado possui algum grau de obesidade, índice inferior somente ao do Rio Grande do Sul (43,06%) e muito semelhante ao de estados como Rio de Janeiro (42,07%) e Mato Grosso do Sul (42,01%). As informações são referentes ao ano de 2025 e incluem os dados parciais deste mês de maio. O Maranhão é a unidade federativa do País com menor percentual de obesos adultos (27,06%).

Os dados são referentes aos pacientes atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS) e indicam que o RN está acima da média brasileira, que é de 31%, de acordo com informações do Atlas Mundial da Obesidade, divulgadas em março deste ano. As projeções, segundo o Atlas, indicam que até 2030, o quantitativo de homens obesos no Brasil deverá chegar a 33,4%, enquanto entre as mulheres o crescimento pode atingir 46,2%.

O endocrinologista Pedro Henrique Dantas avalia que a situação do RN tem a ver com um quadro maior de insegurança alimentar, que pode levar a extremos como desnutrição ou excesso de peso por causa das dificuldades de acesso a alimentos mais saudáveis e de baixo teor calórico.

“Em regiões menos desenvolvidas, a população recorre a muitos alimentos ultraprocessados, o que contribui para o ganho de peso. O Sisvan realiza essa pesquisa especificamente em pacientes do SUS, ou seja, abrange uma população de renda mais baixa, por isso esse índice. Sabemos que o RN é um dos estados de menor renda no país e se vermos a prevalência de obesidade nessa faixa de população mais vulnerável, esses índices tendem a ser mais altos”, explica ele, que é preceptor da Residência Médica de Endocrinologia e Metabologia do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) e chefe do ambulatório de Obesidade Clínica da mesma unidade.

Para reduzir o índice no estado, o médico afirma que é preciso investir nas diversas etapas que envolvem a condição. O primeiro passo é adotar medidas preventivas, uma vez que, evitar o ganho de peso inicial é o mais adequado. “Mas, se porventura o indivíduo não conseguiu esse controle, precisamos garantir o tratamento adequado, que envolve uma equipe multidisciplinar para ajudar na reeducação alimentar, exercícios físicos”, detalha o endocrinologista.

A prevenção envolve múltiplos fatores, dentre os quais, a prática de exercícios físicos, políticas públicas de conscientização sobre os riscos da obesidade e o combate à insegurança alimentar. O controle dos fatores de risco, que podem envolver aspectos genéticos, obesidade ou desnutrição materna durante a gestação e ganho de peso na infância/adolescência, também são importantes para diminuir as chances de um quadro de obesidade na fase adulta.

Mulheres são mais afetadas

A endocrinologista Marília Farache, da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), unidade que, assim como o Huol, também integra a Ebserh, explica que o quadro afeta mais mulheres por causa de questões hormonais. Segundo ela, a obesidade é uma doença crônica multifatorial, com impactos variados, inclusive, emocionais. O diagnóstico de obesidade é feito através do Índice de Massa Corporal (IMC).

“A pessoa com IMC maior ou igual a 30 é classificada como obesa. Outros parâmetros importantes são a avaliação da composição corporal, que permite que a gente quantifique a porcentagem de gordura, com atenção à visceral – aquela localizada principalmente na região abdominal”, esclarece a médica. A gordura visceral, segundo ela, é a que representa maior risco à saúde. Além disso, para o diagnóstico também é analisada a medida da circunferência abdominal.

A assistente social Edivânia Viana, de 47 anos, chegou a pesar 96 quilos, mas graças ao acompanhamento feito no Huol, hoje ela está com 81 kg. Edivânia atribui o quadro aos efeitos dos medicamentos que ela precisa tomar para tratar problemas na tireoide. “Tomo bastante corticoide, o que resultou em um grande ganho de peso, que me gerou muitas limitações. Eu sequer podia caminhar”, conta ela, natural de Riachuelo, no interior do estado.

A obesidade possui três estágios, classificados de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No grau I, o IMC varia de 30 a 34,9kg/m², seguido por 35 até 39,9kg/m² na obesidade grau II, e acima de 40kg/m² chega à obesidade grau III. O tratamento é feito no longo prazo. “Geralmente, para tratar o quadro é preciso uma equipe multiprofissional que envolve médicos, nutricionistas, educadores físicos, psicólogos e psiquiatras para ajudar o paciente”, afirma Marília.

“É necessário focar no aspecto de que todos precisam de uma mudança no estilo de vida, com prática regular de atividade física, alimentação saudável e medicamentos, além da cirurgia bariátrica”, acrescenta a médica. Marília ressalta que a obesidade provoca impactos emocionais importantes, como depressão, ansiedade e transtorno de alimentação. “Por esse motivo, os pacientes se beneficiam muito de um acompanhamento psicológico”, frisa.

No Sistema Único de Saúde do RN, de acordo com Marília Farache, o atendimento a quadros de obesidade é feito inicialmente nos postos de saúde, onde são desenvolvidas ações de prevenção. “Sempre que necessário, os pacientes são referenciados com atendimento mais especializado nas linhas de cuidado, desenvolvidas em algumas policlínicas do estado como, por exemplo, a Policlínica Zona Norte [em Natal], onde acontece um acompanhamento multiprofissional”, aponta a endocrinologista.

No Huol, o acompanhamento é feito com a avaliação de hábitos como padrão alimentar, atividade física, consumo de álcool, tabagismo, hidratação, sono, intestino e doenças associadas. Um desafio, segundo o endocrinologista Pedro Henrique Dantas, é o acesso a medicamentos pelos pacientes. “Hoje, temos cinco medicações consideradas de eficácia para obesidade. Nenhuma delas é fornecida pelo SUS em âmbito nacional, nas Unidades Básicas de Saúde, Farmácia Popular ou serviços de dispensação de medicação de alto custo, como a Unicat”, fala.

De olho na alimentação

A nutricionista Áthina Bezerra comenta que a alimentação é uma forte aliada no combate e controle dos quadros de obesidade. Ela explica que é imprescindível que esse controle esteja associado à prática de atividades físicas. Segundo Áthina, alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras, legumes, grãos integrais, aveia, arroz integral, leguminosa, feijão e lentilha podem contribuir para a prevenção da obesidade. Esse consumo, aponta, deve ser integrado à ingestão de verduras, frango e peixe.

“Gorduras saudáveis, como azeite, abacate e algumas castanhas, desde que não sejam consumidas em grandes quantidades, promovem saciedade e controlam a glicemia”, orienta a nutricionista. Medidas como eliminar totalmente alguns itens são relativas, segundo Áthina, e precisam ser adotadas apenas mediante uma avaliação profunda de cada quadro. “Deve-se investigar, ainda, as questões comportamentais, mas o excesso de alimentos como pães e bolos precisa ser revisto”, fala.

No RN, conforme os dados do Sisvan, são 129.130 adultos obesos, a maioria (25,31%) com grau I, seguido pelos graus II (11,07%) e III (5,71%). O endocrinologista Pedro Henrique Dantas esclarece que os números podem mascarar uma realidade ainda mais preocupante, uma vez que o sistema tabula somente os números referentes aos atendimentos na rede pública de saúde. “Considerando que o acesso ao SUS é mais difícil por aqui, essa é uma realidade que pode estar, sim, um pouco mascarada. É diferente do Rio Grande do Sul [líder no ranking segundo os dados], onde essa assistência [na rede pública] é bem melhor e as informações podem ter um maior grau assertivo em relação à realidade. Talvez isso explique, inclusive, a liderança do RS no País”, discorre.

Tribuna do Norte

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