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Bagada escrito em 2 de Setembro de 2023

Recorde de invasões mostra oportunismo do MST sob Lula, aponta editorial de "O Globo"

Os números deixam claro o oportunismo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) diante do retorno ao Planalto de Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de quatro anos de baixa atividade, as invasões de propriedades rurais dispararam nos últimos meses. Em quatro anos de governo Jair Bolsonaro, houve 62 ocupações, segundo reportagem do GLOBO. Apenas nos primeiros seis meses deste ano, foram 61. Contando julho e agosto, o total em oito meses de governo Lula beira 70. Entre as propriedades invadidas estavam fazendas de eucalipto produtivas no Espírito Santo e até uma propriedade da Embrapa em Pernambuco.

Um levantamento das invasões desde 1995 feito pelo portal g1 e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) revela que o MST foi mais ativo na gestão Fernando Henrique Cardoso. Em 1999, chegou a fazer 502 invasões, mais de uma por dia. Nas gestões dos aliados Lula e Dilma Rousseff (2003-2016), manteve a média de quase 210 por ano. O governo Bolsonaro fechou o Ministério do Desenvolvimento Agrário e transferiu o Incra ao Ministério da Agricultura, mas manteve a política de distribuir propriedades a assentados. Mais de 300 mil títulos de posse foram emitidos, e as invasões recuaram a perto de 16 por ano. O MST se sentiu acuado. Com o retorno de Lula, viu uma oportunidade de recuperar poder.

O governo federal voltou a ser leniente com o movimento. Substituiu superintendentes regionais do Incra por indicados pelos sem-terra. Agrônomos, historiadores ou advogados vinculados ao MST passaram a ocupar espaço na máquina pública. Embora autoridades e ministros tenham condenado as invasões, elas passaram a funcionar como meio de pressão quando demandas não eram atendidas.

A falta de compromisso do MST com a produção agrícola ficou evidente na ocupação das instalações da Embrapa em Petrolina, onde se desenvolvem espécies que também beneficiam a agricultura familiar. A invasão das plantações de eucalipto da Suzano no Espírito Santo e na Bahia foi justificada em nome de uma pretensa luta contra a “monocultura”. Ao atravancar um setor exportador, o MST ameaça empregos e a captação de divisas. Indiretamente, contribui para piorar a vida dos pobres que diz defender.

A visão do MST sobre o campo é idílica. Apesar de também haver espaço para a agricultura familiar ou produtos orgânicos, não há como produzirem alimentos suficientes para consumo interno e externo. Pesquisas mostram que a desigualdade no campo não caiu com os assentamentos. Há histórias de sucesso, mas para a maioria a vida continua difícil. Uma das lições das últimas quatro décadas é que o país precisa repensar a política de reforma agrária, o contrário do que pretende o MST.

Enquanto isso, o agronegócio — adversário declarado do movimento — se tornou o principal motor da economia. O avanço e a modernização do campo desmentiram a fantasia do “latifúndio improdutivo”, e ficou mais difícil mobilizar militantes. Daí a tentativa de ocupar espaço político aproveitando o governo de um partido com que o MST mantém laços históricos.

O uso das invasões como forma de pressão continua tão ilegal quanto sempre foi. Não é questão política. Deve ser tratado pela polícia e pela Justiça. E em nada contribui para resolver os problemas que persistem no campo.

Editorial O Globo

 

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