Bagada escrito em 14 de Outubro de 2024
Antônia é conhecida na seleção feminina como a mais brincalhona do grupo, sempre com um sorriso aberto e pronta para arrancar risadas das colegas. Mas foi com lágrimas nos olhos que ela conquistou a torcida brasileira nas Olimpíadas de Paris. Um choque acidental com a atacante Gabi Portilho, já nos minutos finais da derrota por 2 a 0 para a Espanha, na terceira rodada, causou uma fratura na fíbula que tirou a defensora do restante do torneio.
Como o Brasil estava com uma jogadora a menos desde a expulsão de Marta, no primeiro tempo, e já tinha feito as cinco substituições, Antônia resistiu à dor e continuou em campo por 14 dos 16 longos minutos de acréscimos dados pela arbitragem.
Saiu apenas quando não suportava mais, amparada e chorando, pouco antes da Espanha fazer o segundo gol. Seu sacrifício não foi em vão. A derrota foi na conta certa para o Brasil se classificar às quartas de final e seguir em busca da medalha de prata.
- A Olimpíada foi um momento muito especial. A gente vinha desacreditada, muitos brasileiros imaginavam que a gente não ia chegar, e realmente foi difícil. A gente se classificou de uma maneira que a gente não gostaria, perdendo, mas veio a classificação e a gente abraçou isso. Por todas as dificuldades que a gente passou, essa prata tem um sabor especial - afirmou Antônia.
Pronta para estrear no Real Madrid
Dois meses após a lesão, a defensora de 30 anos está pronta para sorrir outra vez. Totalmente recuperada da contusão, ela vive a ansiedade pela estreia no Real Madrid, para onde se transferiu durante os Jogos Olímpicos, após dois anos se destacando no Levante, também da Espanha. Foi relacionada pela primeira vez no jogo de terça-feira, contra o Chelsea, pela Champions League Feminina, mas não saiu do banco na derrota por 3 a 2, em Londres. A próxima chance é neste domingo, no clássico com o Atlético de Madrid, pelo Espanhol.
No Real Madrid, a concorrência por um lugar no time é forte em qualquer setor. Na defesa, o técnico Alberto Toril conta com duas laterais-direitas da seleção espanhola, Oihane Hernández e Sheilla García, e a zagueira da seleção francesa Maëlle Lakrar. Antônia, campeã da Copa América e medalhista olímpica com o Brasil, tem a seu favor, além do currículo, o trunfo de poder jogar na lateral ou na zaga.
- Sempre falo que, para mim, o mais importante é poder jogar e ajudar o time. Independentemente da posição, eu só necessito entregar o meu melhor. Quem vai determinar é o técnico, que ele possa ver onde eu posso entregar mais para o time - comentou ela.
Carreira deslanchou em 2020
Natural de Riacho de Santana (RN), Antônia começou a carreira jogando futsal no ABC, de Natal. Sem times femininos de campo para atuar, se mudou para São Paulo, mas ainda passou um tempo nas quadras, defendendo a Portuguesa de Desportos, até finalmente ter a primeira chance nos gramados, em 2017, pelo Valinhos/Ponte Preta.
Logo despertou a atenção de grandes clubes. Foi campeã da Copa Libertadores pelo Corinthians/Audax, ainda em 2017, ano da primeira convocação para a seleção - ficou no banco em um amistoso contra a Alemanha. Em 2018, ganhou o Amazonense pelo Iranduba, e no ano seguinte se destacou no São Paulo.
Naquele momento, veio a virada na carreira. A primeira experiência internacional, em 2020, no Madrid CFF, trouxe maturidade profissional e o reconhecimento ao talento e versatilidade de quem começou a carreira como volante, brilhou na zaga e se firmou como lateral direita. Mesmo nos momentos de maior dificuldade, ela nunca perdeu a esperança.
- Eu tinha claro qual era o meu sonho, o que eu queria alcançar. Óbvio que foram inúmeras dificuldades, mas em nenhum momento eu pensei em desistir, até porque minha família sempre esteve ao meu lado - relembrou.
Antônia estreou na seleção no Torneio da França, em 2020, e hoje é uma das referências da equipe, titular nas últimas três grandes competições pelo Brasil: na conquista da Copa América, em 2022; em sua primeira Copa do Mundo (Austrália/Nova Zelândia-2023); e, novamente como zagueira, na conquista da prata em sua estreia em Olimpíadas.
- De 2020 para cá, eu vi uma evolução muito grande no futebol feminino brasileiro, e também na minha carreira. Eu pude crescer profissionalmente, estou mais experiente, melhor fisicamente. Minha saída do Brasil foi um momento bem importante para mim - afirmou Antônia.
A boa preparação e as atuações seguras contra Inglaterra e Alemanha, pouco antes da Copa do Mundo de 2023, deixou a seleção brasileira confiante para o torneio. Mas a derrota para a França na segunda rodada e o empate em 0 a 0 com a Jamaica decretaram a surpreendente eliminação na fase de grupos.
- Foi um momento bem duro. A gente se sentia muito bem preparada, mas futebol é isso, né? Nem sempre as coisas acontecem como você imagina. O aprendizado que fica, eu acredito, é que futebol não é só jogar, não é só o físico. O mental também conta muito, tem que estar muito forte mentalmente para superar os obstáculos dentro de uma competição.
Este ano, nas Olimpíadas, o Brasil novamente teve problemas na primeira fase, com derrotas para o Japão, quando sofreu dois gols nos minutos finais, e para a Espanha. Mas a sorte sorriu para a seleção brasileira, que conseguiu avançar como uma das melhores terceiras colocadas, superando a Austrália por um gol no saldo. E a equipe comandada por Arthur Elias soube agarrar a chance: superou as favoritas França, nas quartas, e Espanha, na semifinal, perdendo apenas para os Estados Unidos, por 1 a 0, na decisão.
- Foi uma virada de chave. Quando a classificação veio, mesmo com todas as dificuldades, as lesões, a gente ficou mais aguerrida. Tudo isso foi nos fortalecendo, e foi o que fez a diferença para a gente chegar até a final, com certeza.
De olho em 2027
A contusão na terceira rodada transformou Antônia em torcedora especial durante o mata-mata, junto com a lateral-esquerda Tamires, também machucada. Nas quartas e na semifinal, mais duas baixas: a zagueira Rafaelle, também por lesão, e a camisa 10 Marta, suspensa pela expulsão contra a Espanha. Por isso, Antônia valoriza ainda mais as jogadoras que se multiplicaram na fase decisiva das Olimpíadas para superar os desfalques.
- Eu diria que elas são muito vitoriosas. Com todas as dificuldades que apareceram, a gente não desistiu, a gente persistiu, e isso é sinônimo de vitória. Foi o que fez com que a gente chegasse onde a gente chegou - afirmou a defensora.
Nos próximos três anos, o Brasil vai se preparar fora de campo para sediar a Copa Feminina de 2027. Para as jogadoras da seleção, é a chance de alcançar, diante da torcida, o primeiro título mundial.
- Eu vejo um Brasil renovado, com muita força e muito talento. Representar nosso país dentro do nosso país é, seguramente, algo que eu já tenho pensado. Vou me esforçar bastante para estar bem fisicamente, demonstrando um bom futebol, para poder disputar essa Copa do Mundo, ao lado da minha família e dos meus amigos.
Globo Esporte
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