Bagada escrito em 7 de Abril de 2025

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou neste domingo (6/4), em discurso na Avenida Paulista durante a manifestação convocada pela anistia aos envolvidos nos atos de janeiro de 2023, que “só um psicopata para falar que aquilo que aconteceu no dia 8 de janeiro foi tentativa armada de golpe militar”.
Bolsonaro ironizou a manifestação realizada na semana passada por grupos de esquerda contra a anistia e em defesa de sua prisão, e disse que “eles perderam essa guerra” porque “a grande maioria do povo brasileiro entende as injustiças” contra os presos e condenados pelos atos antidemocráticos, que resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília.
Segundo o ex-presidente, “a anistia é competência privativa do Congresso Nacional” e não poderá ser vetada pelo presidente da República. Também citou o caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, de 39 anos, que ficou dois anos presa por pichar “Perdeu, mané” na estátua “A Justiça”, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 8 de janeiro.
Mãe de dois filhos, Débora está em prisão domiciliar desde o fim de março, no interior de São Paulo. Os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino votaram para que ela seja condenada a 14 anos de prisão. O ministro Luiz Fux pediu vistas do processo, suspendendo o julgamento.
“Não tenho adjetivo para qualificar alguém que condena uma mãe de dois filhos a um apena tão absurda por uma crime que não cometeu. Só um psicopata para falar que aquilo que aconteceu o dia 8 de janeiro foi tentativa armada de golpe militar”, disse Bolsonaro.
O ex-presidente também citou os casos de um pipoqueiro e de um sorveteiro por golpe de estado, e repetiu a fala em inglês dizendo que a mensagem precisava chegar a outros países do mundo.
Ato bolsonarista
Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle subiram no caminhão de som, estacionado próximo ao Masp, e acenaram para a multidão antes do início do ato, que foi organizado pelo pastor Silas Malafaia, e teve início às 14h (acompanhe a cobertura ao vivo no link abaixo).
Ao todo, dez pessoas foram destacadas para discursar. O segundo a falar foi o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que atacou duramente o ministro Alexandre do Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), chamando-o de covarde, e criticou a Polícia Federal (PF).
“Ditadores de toga, principalmente como Alexandre de Moraes, se utilizou do dia 8 para nos amedrontar. Se lascou, olha a gente aqui. Essa é a resposta para você seu covarde. E digo mais, fizeram de tudo para poder massacrar a maior liderança política deste país, que é o Bolsonaro”, disse Nikolas.
Já a deputada federal Caroline de Toni (PL-SC) disse que “dia 8 de janeiro foi uma manifestação, e não uma tentativa de golpe”, enquanto que o deputado Altineu Côrtes (PL-RJ) fez uma chamada perguntado para os políticos presentes se os partidos deles apoiavam a anistia.
O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), chamou a manifestação de “ato humanitário”, que “visa corrigir as injustiças” cometidas contra os envolvidos nos atos antidemocráticos de janeiro de 2023, e disse que vai “lutar” para deputados do seu partido “assinarem a anistia”.
Anistia aos envolvidos no 8/1
Mais de 500 pessoas já foram condenadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por participação nos atos antidemocráticos. As penas variam de três a 17 anos de prisão. Os crimes pelos quais foram condenados são: tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa e deterioração de patrimônio público.
Os bolsonaristas consideram que o Supremo, na figura do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, está perseguindo os apoiadores do ex-presidente, e que as penas impostas são exageradas. Por isso, articulam a aprovação de um projeto de lei no Congresso para anistiar todos os envolvidos nos atos de 8/1.
A anistia virou pauta única da manifestação deste domingo, ao contrário do que ocorreu em Copacabana, no Rio de Janeiro, há três semanas. E o batom, usado por Michelle Bolsonaro em um vídeo de convocação para a Paulista, virou o símbolo do ato de São Paulo.
O símbolo faz alusão ao caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, de 39 anos, que usou um batom para escrever a frase “Perdeu, mané” na escultura “A Justiça”, em frente ao STF, durante os atos de 8 de Janeiro. Ela ficou dois anos presa e agora está em regime domiciliar, no interior paulista.
Neste domingo, vários manifestantes levaram batom para a Avenida Paulista, dizendo que essa é a “arma” usada pelos bolsonaristas e pela qual Débora pode pegar 14 anos de prisão — os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino já votaram pela condenação por essa pena, mas o julgamento dela foi suspenso após pedido de vista do ministro Luiz Fux.
Os manifestantes que se aglomeravam na Paulista desde cedo pediam a volta de Jair Bolsonaro à Presidência da República e cantavam uma música que virou símbolo das manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2025: “Vamos pra rua pra derrubar o PT”.
Embora não faça estimativa de público, o pastor Silas Malafaia, principal organizador da manifestação, aposta que o ato da Paulista será muito maior do que o de Copacabana, há três semanas.
Entre os motivos, ele aponta o fato de a capital paulista ter uma população muito maior do que a do Rio, a Avenida Paulista ser o grande palco de manifestações políticas do país, e o horário da manifestação, prevista para começar às 14h — no Rio, o ato foi de manhã por causa do jogo da final do Campeonato Carioca. “Tinha final de Fla-Flu e a gente não pôde fazer à tarde. Tivemos que fazer de manhã, o que é um pouco mais difícil aqui no Rio”, afirmou o pastor.
Para o professor da Universidade de São Paulo (USP) Pablo Ortellado, que faz o monitoramento das manifestações por meio do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o ato de Copacabana teve problemas de organização que podem ter atrapalhado o engajamento. Segundo o monitoramento dele, o ato na capital fluminense reuniu 18,3 mil pessoas. O Instituto Datafolha estimou o público em 30 mil, enquanto a Secretaria da Segurança Público do Rio divulgou 400 mil presentes.
Metrópoles
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