Bagada escrito em 7 de Fevereiro de 2024
Foram seis anos consecutivos de tentativas até conseguir a aprovação em uma universidade pública. Desde 2018, Gabriel Cledson da Silva, de 27 anos, buscou conciliar a árdua rotina como auxiliar de serviços gerais em uma escola da zona Norte de Natal, com a preparação para o Enem na esperança de alcançar um sonho de menino: estudar Medicina. E a concretização desse feito se deu agora. O rapaz foi aprovado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e poderá se dedicar ao ofício com um propósito claro. “Quero ser médico para fazer a diferença”, afirma. Uma vaquinha virtual foi criada para ajudar Gabriel a dar início ao sonho, já que ele precisa de ajuda financeira.
O jovem irá se mudar para Porto Alegre (RS) e para custear os gastos longe de casa, está recebendo doações pela internet – o link para a vaquinha está no perfil do Instagram dele (@gabriel_skyller) – ou via pix (chave: 84 9 8629-5863). O apoio que tem recebido de quem se solidarizou com a campanha garantiu ânimo para Gabriel se fortalecer ainda mais em busca do próprio sonho. É que a jornada dele até aqui, não foi nada fácil. Depois das múltiplas tentativas de ingressar em uma universidade, Gabriel se viu obrigado a tomar uma decisão que traria impactos imediatos para ele e para a mãe, com quem vive no bairro de Igapó, na zona Norte de Natal.
Em fevereiro do ano passado, ele pediu demissão da Escola Municipal Irmã Arcangela, onde trabalhava desde 2019, para conseguir se dedicar com mais afinco aos estudos, a fim de melhorar o desempenho no Enem, exame que permite o acesso a universidades públicas em todo o País. Gabriel havia ganhado uma bolsa em um cursinho particular, mas estava sem conseguir conciliar os horários com o trabalho, uma vez que as aulas aconteciam do outro lado da cidade, na zona Sul.
“Sempre que vinha a reprovação, eu pensava que era preciso melhorar em tal aspecto e sabia que um dia tudo daria certo. Então, eu pensei: está havendo um conflito de horários entre o trabalho e o curso. Se continuar assim, vou reprovar mais uma vez. Foi aí que decidi sair do emprego, porque eu também estudava em casa, de forma online ou com alguns livros. Depois de tantos anos, a rotina ficou muito desgastante”, conta Gabriel. Foi aí que ele encarou um dos períodos mais difíceis do ano.
“Quando parei de trabalhar no ano passado, minha mãe tinha uma ocupação informal e a gente recebia o Bolsa Família. Assim que terminou meu seguro-desemprego, ela, que atuava com reciclagem, perdeu o trabalho e, logo em seguida, perdeu também o auxílio. Passamos três meses de muitas dificuldades, mas eu pensei: se isso está acontecendo, é porque algo muito bom está por vir. Sempre fui uma pessoa positiva”, relata o futuro médico.
Há cerca de um mês, Gabriel voltou a trabalhar. Atualmente, ele é repositor em um supermercado de Natal. O rapaz está se preparando para ir a Porto Alegre resolver questões relacionadas à matrícula na universidade. A Secretaria de Educação do Estado (SEEC/RN) prometeu custear a viagem de Gabriel, que agora não vê a hora de começar uma nova trajetória.
“Para mim, Medicina é um meio muito importante de ajuda ao próximo. A gente vê muitos profissionais que não têm empatia, mal tocam ou olham no olho do paciente. Por isso, quero ser médico, para fazer a diferença”, atesta. Gabriel sempre gostou de estudar – chegou a participar duas vezes do quadro Soletrando, do antigo programa Caldeirão do Huck, da TV Globo e agora seguirá ainda mais forte na caminhada.
Tribuna do Norte
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